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Mostrando postagens de 2014
As histórias que a História não conta Sonho ou realidade? Uma dádiva do céu Vi, no Morro da Mangueira, Sambar, de porta-bandeira, a Princesa Isabel Quando o branco Francisco Alves aparece como compositor de obras primas ao lado do negro Ismael Silva, verdadeiro compositor de muitos sambas que circularam na voz de outros, vemos que a história nem sempre é contada da maneira verdadeira. Não apenas em casos de distorção, o que se tem, muitas vezes, é uma omissão. Quais livros de história abordam de maneira aprofundada os costumes e crenças dos escravizados no Brasil da época colonial? Quantos romances retratam essa camada, a mais importante da sociedade brasileira durante quatro séculos? Dizem que o samba é um símbolo nacional. Quantos brasileiros saberão dizer a origem deste ritmo musical? Quem conhece os grandes sambistas? Para os brasileiros, quem foi Ismael Silva? Tem histórias que a História – essa, oficial, com inicial maiúscula – não conta. Ismael Silva, c...

Sem notícia

Saiu do Butantã sem saber pra onde ia. Aquela noite não tinha sido fácil. Entre cochilos, gritos e ventania, acordou no meio do caos, na cidade de São Paulo. Não suportava mais aquele lugar. Quais seriam as estatísticas de suicídio na maior cidade do hemisfério sul? Uma cidade do tamanho do mundo que não foi projetada para as pessoas que moram nela. Sentia que não cabia ali, mas também não cabia em si. Quantas vezes olhou pros trilhos do metrô que pegava depois e antes de entrar em ônibus cheios que completavam o trajeto do caminho incompleto, mas nunca o levavam de si pra si, mas talvez não coubesse em si, como não cabia naquela cidade. Sonhava com outros tempos. Acordado olhava em volta: rostos tristes não respondiam ao seu anseio interior, de quem precisa de amor. Todos estavam cansados, muitos nem sabiam disso, mas estavam. Tudo parado na Cidade de São Paulo, trânsito, saúde, amor. Nada parecia funcionar. No meio da Avenida Paulista teve que correr. As pessoas corriam, barulho...

Não me impede de cantar... rá rá rá

“ Somos todos produtos românticos. E se não fôssemos produtos românticos, se calhar não seríamos nada”. Nessa frase, Fernando Pessoa. Mas hoje, se não fosse Caetano Veloso seríamos muita coisa, mas com certeza Santo Amaro da Purificação deu-nos alguém a quem amar. Seguimos um trio e cantamos em multidão algumas composições de Caê. E hoje amamos mais um pouco esse homem. Pelos seus versos, pela sua musicalidade. Junto com Gil, na Tropicália deram outra cara pra arte do país e, ainda hoje, continua embalando multidões e abalando corações. Como não se render ao ouvir “eu sou a chuva que lança a areia do Saara sobre os automóveis de Roma”, “é a lua, é o sol, é a luz de Tieta!”, “doce bárbaro Jesus”, “não enche”. Simples alguma vez, complexo vez ou outra, ele ainda é Caetano e nós ainda o amaremos até sermos arrebatados por "Meia Lua Inteira" São dim, dão, dão São Bento Grande homem de movimento Martelo do tribunal Sumiu na mata adentro Foi pego sem do...

O tempo e o vento

Estou sentado na sala de um homem a quem mal conheço e com quem me encontrei três vezes em toda a vida, todas as três vezes dentro dos últimos cinco meses. Estaria mentindo se dissesse que o conheço, não sei quem é, de fato. Só sei que ele, que não está em casa e não estava aqui quando cheguei, abriu a porta de sua morada e deixou que eu me estabelecesse aqui com meu namorado. Estou no interior de Coimbra, Portugal e hoje, 9 de fevereiro de 2014 faz 4 meses e 28 dias que saí de São Paulo. Nesse 9 de fevereiro fatídico, faz um tempo péssimo. Talvez uma das piores tempestades que já presenciei nessa vida de meu deus. O vento está absurdamente forte e faz um barulho muito assustador no segundo andar dessa residência em Casais, Coimbra, Portugal. O frio é intenso e a internet se foi. A eletricidade continua conosco. Hoje, com certeza, sei o que é uma tempestade num inverno europeu e vejo que poderia escrever algo sombrio/assustador. Não sinto propriamente medo, mas estou assustado. A...