re-cinzas, re-carnaval
Quarta-feira
As cinzas
a cidade cinza
o carnaval agora é saudade
O sonho do carnaval não morre, mas adormece para dar sentido à vida que se desfralda na nossa frente, tal a bandeira da porta-estandarte. Cortejamos o carnaval como o mestre-sala corteja a dama e oferece o pavilhão àqueles que são capazes de amá-lo e respeitá-lo, por todos os dias de sua vida...
E assim somos levados, na cadência dos dias, a sobreviver mais um dia, mais um mês, mais um ano... enquanto aguardamos, ansiosos, o carnaval que se aproxima, ainda que distante, ainda que tardio. Recolhemos nossos corpos, nossas vozes, nossas bandeiras e, melancólicos, rumamos para mais um ano que se inicia (novamente), suportando-o apenas pela promessa de que em 12 meses seremos, novamente, mais que nós, seremos um e muitos, seremos outros, seremos o outro, seremos todos carnaval.
A evolução do calendário que espreme um dia após o outro e não deixa a harmonia desandar existe por uma razão: é nosso desafio construir um novo sonho pra brilhar no novo ano, na comissão, na bateria, no amor, na dor e na alegria. Samba, teu samba é uma reza que pede proteção e força para ver novamente, no próximo carnaval, o despertar de um novo dia de alegria, o despontar do verde-e-rosa na avenida, ouvir o som dos seus tamborins e o rufar do seu tambor, para poder gritar: o carnaval chegou!
Poucas coisas, contudo, são mais tristes que a quarta-feira de cinzas. Embora alguém saia campeão nota-a-nota, penduramos nossas fantasias, ouvimos o clamor do samba que se afasta e abre passagem pra vida que se re-rotiniza, se reinventa, se rearranja. Olho pela janela, os carros de costas vão embora e se preparam, com seus foliões-não-foliões, para mais um ano. E, tal como o poeta, ficamos com a quarta-feira por findar e pelas cinzas que o vento sopra pra longe, junto com o carnaval.
19h na metrópole e um coração que insiste. Não se avexe, ano que vem tem mais.
O importante é ser fevereiro e ter*. Minha carne é de*; meu coração é igual. Tô me guardando pra quando o* chegar.
*carnaval substantivo masculino 1. HISTÓRIA período anual de festas profanas, originadas na Antiguidade e recuperadas pelo cristianismo, e que começava no dia de Reis (Epifania) e acabava na Quarta-Feira de Cinzas, às vésperas da Quaresma [Festejos populares provenientes de ritos e costumes pagãos, caracterizavam-se pela liberdade de expressão e movimento.
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