Análise e Interpretação de Relicário?! Quem sabe!






Eternizada na voz de Cássia Eller, Relicário é uma música que trata de amor; através da metáfora do decorrer do dia, Nando Reis fala dos possíveis estágios de um relacionamento.












Uma olhada atenta para a primeira estrofe nos permite algumas constatações interessantes:






"É uma índia com um colar



A tarde linda que não quer se pôr



Dançam as ilhas sobre o mar



Sua cartilha tem o A de que cor



O que está acontecendo?



O mundo está ao contrário e ninguém reparou



O que está acontecendo?



Eu estava em paz quando você chegou"






Aqui o autor constrata imagens hora grandes - universais -, hora pequenas - inviduais. E isto está delimitado ou por versos ou por par destes. O primeiro verso traz uma imagem cotidiana, o segundo uma, digamos, 'universal', o que acontece nos dois versos seguintes respectivamente. A partir do quinto verso os pares representam o contraste, o par formado pelos versos 5 e 6 remetem-nos ao universal, 'o mundo', em contraste com os versos 7 e 8 que trazem o pronome da primeira pessoa, restringindo acontecimentos ào "ego", ao individual.



Talvez o amor nos traga isso, reflexão sobre nós mesmos e sobre o mundo, em contraste. O amor nos deixa sensíveis a qualquer tipo de problema ou de ação que o circunde, ao passo que ele também provoca sentimentos incompreensíveis ou inexprimíveis, podendo, por exemplo, nos fazer encarar os nossos problemas como os únicos e piores no mundo.



[...] Coisas de amor! [...]









Atento-vos para o seguinte trecho:






"Corre a lua, por que longe vai?



Sobe o dia tão vertical



O horizonte anuncia com o seu vitral



Que eu trocaria a eternidade por esta noite



Por que está amanhecendo?



Peço o contrário, ver o sol se pôr!



Por que está amanhecendo?



Se eu não vou beijar seus lábios quando você se for..."









O que chama a atenção nessa estrofe da música é a grandeza da imagem criada: a Lua que se vai, o dia que sobe, e o anúncio do horizonte; palavras como 'sobe', 'tão', 'longe' e 'eternidade' remetem-nos, justamente, à idéia de grandeza. O autor constrói uma imagem sublime pra tratar - de modo sublime, também - do amor, da grandeza do sentimento que o eu-lírico possui. 'Trocaria a eternidade por essa noite' é o máximo da declaração de um sentimento.



Pra completar a idéia de sentimento verdadeiro, e reafirmar o desejo de viver o momento em detrimento de uma vida, os versos subseqüentes da canção nos trazem o questionamento do amanhecer e exprimem claramente o desejo de se viver a noite: 'peço o contrário, ver o sol se pôr"; o último verso dessa estrofe traz o sentimento da dor, da carência, algo que não será suprido, superado, se o dia continuar a subir "tão vertical".






Nando Reis, o autor, em bate-papo no site UOL falou sobre a música Relicário:




"A primeira coisa é que eu não gosto muito da idéia de uma música conter uma mensagem, ter uma interpretação. Acho que a riqueza de qualquer expressão artística é da mesma liberdade de ter o criador ela é para quem interpreta, ela é de forma diferente. É uma música que fala de uma separação, uma inviabilidade e usa como imagem o transcorrer do tempo que passa da noite para o dia. O nascer do dia leva embora a noite e esta noite leva junto a mulher que está inacessível para mim. O senhor X quer a Senhora Y que não está disponível. O Senhor X sofre pela indisponibilidade da Senhora Y que está indo embora para encontrar Senhor W. O Senhor X gostaria de ser o Senhor W para ter a Senhora Y. E eu não queria que a noite nunca acabasse para ter a senhora Y. A Senhora Y em questão depois passou a ser a Senhora L. E depois de muitos anos a Senhora Y se concretizou com uma realidade. A música é muito louca, pois fala "semente do futuro amor" que ao meu entender se deu na figura do meu filho Ismael que nasceu depois. Por isso que incluí na versão seguinte do "Relicário" uma estrofe, um apêndice que fala do nascimento do Ismael que é filho da Senhora Y. É uma história de amor. É o manifesto do otimista, aquele que crê que o amor um dia há de vingar. Tem outra coisa bonita. Eu comecei a fazê-la em 17 de agosto que é dia do aniversário de minha mãe que já faleceu. Ela gostava muito de um bolero com esse nome. E eu queria fazer uma música com esta palavra. E começou por conta da minha emoção de estar com a Senhora Y no dia do aniversário da minha mãe e passou ser a fonte das imagens para descrever o momento X."






A palavra RELICÁRIO e versos como "Um relicário imenso desse amor" vem dar conta da imensidão desse sentimento e imensidão de sua preciosidade....






A canção faz refletir sobre o sublime e contraditório sentimento do AMOR! Mas tal reflexão só se dá àqueles que se abrem a ela, que desejam que ela aconteça...



Assim como o próprio amor: se vocâ abrir o seu coração e permitir que ele te tome, assim o será, caso contrário, infelizmente, você corre o risco de ser mais um na face da terra... Talvez com grandes feitos, mas sem, a grandeza do sublime amor.






Talvez seja melhor amar! Ame seus amigos; ame quem quer que seja, homem ou mulher; ame seu animal de estimação! Ame a Deus, ou seu orixá! Mas ame!






Ame a vida!









O grandíssimo mestre Carlos Drummond de Andrade nos legou este ensinamento que eu vou cultivar por toda a minha vida:









"Você pode ter mil motivos para não amar uma pessoa e um para amá-la, e este deve prevalecer!"






Dedico com amor aos meus amigos.... Àqueles de longa data, do Maria André Schunck e Paschoal Carlos Magno - à minha amiga Mayara, eterna indecisa, futura engenheira (Faça o que quiseres, mas faça com amor) - aos meus amigos de data recente mas de não menos importância e amor que os outros, da Universidade de São Paulo. E àqueles que se sentirem inspirados!












P.S.: com carinho especial para Thamires - do Grupo "Caras" de teatro, uma das minhas famílias; pra que essa amizade que nasce sólida e intensa perdure como um verdadeiro amor!



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