Postagens

Mostrando postagens de 2019

Liberdade, liberdade

Será que a gente consegue ser livre de verdade? Essa pergunta o perturbava há dias. Não foi diferente na noite de sexta-feira, às vésperas do natal, quando foi tocado por uma cena de série em que alunos homenageavam uma professora. A identificação é uma coisa foda. As palavras de uma personagem atingiram em cheio o peito do jovem professor que viu, na emoção dela, suas próprias emoções. A pergunta martelava na cabeça enquanto, preso em casa, à rotina, queria se sentir livre. Noite de dezembro, cinza lá fora, na cidade cinza, cinza ali dentro, só o pó. A eterna procura, o inexplicável desejo, a iminente ação, a palavra não dita, o sentimento não confesso. A prisão invisível que segura o inexistente. Que porra de sentimento é esse que não acalma nem estoura, que lateja? Esse tempinho sem jeito, nessa cidade toda estranha, que de tão estranha se torna casa, se torna lar, se torna família, ela mesma, dos sem-família, dos voluntariamente sós, daqueles que, estando juntos, estão soli...

aquele novo de sempre mesmo amor

O quanto do amor que buscamos não existe de fato? Existem provas de amor, apenas provas de amor. O poeta cantou e arrematou: "não existe o amor". Amar e acordar, amar e comer, amar e trabalhar, amar e viver, amar e amar. A vida dilui o amor na repetição dos dias e o desafio é reencontrar o amor em qualquer sorriso de canto de boca, em qualquer gesto ao passar o prato cheio, em qualquer compreensão após um dia atribulado.  Amar e amar exige, também, que a gente seja capaz de desconstruir dentro de nós o amor-fantasia, o amor-comédia-romântica, o amor-maior-amor-do-mundo. Amar a nossa falta mesma de amor, como disse o Drummond. Lembrar que o filme não vai acontecer na sua vida, porque todo dia é dia de amor e de amar. Lembrar que o beijo da Capitu no Bentinho, que casa perfeitamente com a música da Pitty, não acontece todos os dias. O que rola todos os dias é o beijo-bom-dia, beijo-bom-trabalho, beijo-oi, beijo-boa-noite. Mas aprendemos que aquilo que existe todo...

Somos feitos de outonos

Meia estação, tempo de repetições. Dias comuns, rotinas desbotadas tal qual as folhas que caem das árvores ao bater do vento. No fim do dia, o recolhimento, o cansaço de mais um dia vencido, apesar dos pesares. E o que pesa, no fim do dia, no fim da vida, é nada. Viver tem sido esse grande vazio e lidar com ele é o significado do que é viver. Às vezes, viver é aceitar que são poucos os gênios, mais comum é a mediocridade da rotina. São poucos os magníficos, comum a simplicidade. São poucos os que serão lembrados, muitos serão esquecidos como a estação que se dissolve no decorrer dos dias, enquanto esperamos, iludidos, verões que se projetam com planos, férias, amores, viagens e felicidades que, também elas, passarão como passam as primaveras, os verões e os invernos. Essas linhas se repetem e se mostram, na minha frente, tão desafiadoras quanto os dias se desfiam na minha vida. Talvez escrevê-las seja mais uma tentativa de fugir ao esquecimento tácito do tempo, bem como é tam...