Sobre sorrisos e encontros

                   Levantei, peguei a última cerveja no fundo da geladeira e fui.No elevador pensei em desistir. Quando cheguei no térreo, pensei em apertar o 6º andar e voltar pro calor do meu quarto, com a cerveja ainda fechada na mão... Mas abri a porta e fui. 
Andar por entre rostos desconhecidos e a música tipicamente desconhecida, nada nítida num som improvisado. Respira. Cheguei. Tá tudo bem. Um gole na cerveja gelada.
E de repente um rosto chamou a minha atenção. Embaixo de uma árvore, à meia-luz, a camiseta branca chamou minha atenção. Mas, puta que pariu, a velha sensação de insegurança bateu. Frio na barriga, sensação de tensão. Junto com o desejo de chegar perto, de conversar, de beijar aquela boca, que abriu um sorriso lindo.
Já estava mais à vontade naquela festa, que eu soube de última hora e para a qual decidi ir de supetão. Queria afogar as mágoas da semana de trabalho e pouco amor.
Volto pra festa e praquele carinha debaixo da árvore, com quem não consegui contato visual, por um tempo, até ele sair do grupo de amigos e ir pra perto da caixa de som.
O olhar que percebeu meu olhar, o corpo que para no meio de um passo, em que parte do corpo foi e outra parte ficou, junto com o olhar, que ficou nos meus olhos. E depois meus passos que seguiram aqueles passos e os olhares trocados por tanto tempo que me perdi no tempo, no espaço, na música que rolava, incompreensível pelos ouvidos, mas tocando nitidamente dentro de mim. Uma batida de funk que empolgava aqueles olhares.
Chegar nele e perguntar pelos amigos, pela carinha de cansado, pelo lugar onde estudava.... Ah, o sorriso... e a pergunta, educada demais prum contexto noturno: "posso te dar um beijo?"...

***



A resposta não veio como se esperava. Ela mal veio, porque as pessoas não nos respondem, muitas vezes. O beijo não rolou... mas o sorriso perto de mim, aquelas palavras trocadas pós cerveja, aquela última do fundo da geladeira... a coragem, enfim, que veio.... junto com a música que tocou enquanto eu decidia ir embora e trocava o último olhar com ele, que representou um retorno a mim mesmo, à minha coragem e ao meu amor próprio: "Eu tô tranquilão, tô numa boa, tô curtindo o batidão".





Sábado, 23 de maio de 2015.



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