Ainda guardo, renitente, um velho cravo para mim...

Foi bonita a festa, pá
Fiquei contente
Ainda guardo, renitente,
Um velho cravo para mim.

Já murcharam tua festa, pá
Mas certamente
Esqueceram uma semente
N'algum canto de Jardim

Sei que há léguas a nos separar
Tanto Mar, Tanto Mar
Sei também como é preciso, ó pá,
Navegar, navegar.

Canta a primavera, pá,
Cá estou carente.
Manda novamente
Algum cheirinho de alecrim.


Quanta 'coisa' guarda a existência de uma pessoa?
Tanta coisa já foi vivida. Tanta coisa que caberia na vida de pelo menos 3 pessoas. Mas não, elas foram vividas por mim, e em mim elas vivem, existem, coexistem. Sou um pouco de Portugal, sou um pouco da Europa, sou um pouco do Brasil. Sou um tanto do primeiro, sou um tanto do segundo... sou um tanto de mim mesmo? Quem sou? 
Esse aglomerado, essa explosão interrompida, pré-erupção, pré-revolução, cravo em botão. Sou o grito contido, jorro de luz que se esconde. Será que aguardo o momento de sair? Ou contido serei? Um grito calado, força do silêncio? 

"Eu queria estar na festa, pá
Com a tua gente,
E colher pessoalmente
Alguma flor do seu jardim"


"Por ti passarem, 
quantas mães choraram, 
quantas noivas ficaram por casar
para que fosses nosso, ó mar!"

Saudade - o português te colheu do latim e escondeu dos romances co-irmãos. Cravo nos jardins de Lisboa   brotou no coração de África e nos corações brasileiros. Essa saudade que brota e nos desbota, nos botam "comovidos como o diabo".

Boa noite ao dia que nasce.
"Navegar é preciso
Viver não é preciso"

Boa noite Chico Buarque, Fernando Pessoa e Luís de Camões.

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