Veneno monocromático
São 7h da manhã e o galo não cantou nessa cidade cinza. Aqui somente a injustiça e a poluição reinam absolutas, e não há justiceiro que se faça sobre esse chão. Não dormir, aqui, é um hábito. Você não dorme por stress, porque não respira, porque não tem casa, porque não tem vida. A literatura não é uma saída possível... os artistas precisam de vida, e vida não tem. Ou como diriam os paulistanos mais jovens: vida tem, mas cabô! Seguimos procurando, aqui e ali, um sopro de vida, uma sombra de justiça, onde possamos nos abrigar do frio, do vento seco... Onde uma toalha umedecida de fé e esperança possa alimentar os ares secos desse não-sertão, não-lugar. A cidade que só destrói as pessoas que lutam para construí-la, essa mesma cidade espera cada vez mais das pessoas. “Olhos sujos no relógio da torre: Não, o tempo não chegou de completa justiça. O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.” (CDA) São Paulo, 27 de abril de 2013.